quinta-feira

Tormenta


                                       
  

Veste-me daquele aroma dos lábios molhados depois de um beijo que pertenceu ao meu corpo depois de (um) amanhecer a dois.
  ...daqueles braços… impetuosos e exigentes, que cavavam na ternura dos desejos, longas tardes em que fugíamos como corsários do tempo…
  … éramos simplesmente felizes.
 
Veste-me das mãos que tantas e tantas vezes me cravaste na pele, construindo palavras das saudades que ambos trazíamos na ponta dos dedos… fruto do calar o grito de tristeza de não podermos testemunhar juntos ,  cada amanhecer.
  ...de segredos… Os segredos que os meus ouvidos guardam; eco de um sonho onde tudo se espera sem nada se pedir.
   
Canso-me, cada vez me canso mais… A minha voz cala-se mais um pouco todos os dias e tenho medo que se cale de todo. Por isso imploro……………Veste-me ou despe-me… Ou talvez seja melhor que me mandes embora de vez… porque o teu silêncio é a tábua rasa para o tormento eterno da minha alma.

quarta-feira

Não Acordes as Estrelas



… Apenas desejei que  me resgatasses do isolamento das palavras que me impelem a escrever.” Tristezas”; dizes -me tu!
_Não são tristezas, são palavras!
 “Tristezas”! Teimas em perpetuar.
 
 Meu Deus, serei eu assim como dizes?
Serei eu uma amnésia dos céus; meretriz do ócio da dor?
Chego à conclusão que talvez eu precise de morrer e beber todo o meu sangue, para que o renascer traga de volta a pessoa que hoje confinaste a gestos esfumados de querer.
 
Não sei! Sinceramente não sei!
Talvez os dias estejam a nascer contra a minha vontade.
Talvez eu me perca na rédeas do tempo ao tentar emoldurar todas as minhas memórias.
Talvez eu precise de morrer, para que a fome de vida não me mate primeiro.
Talvez! Talvez! Talvez!
 
Penso e repenso em tudo o que falamos, em tudo o que destilamos e não percebo, juro que não percebo porque bebes apenas o ar frio das minhas promessas, quando existe tanta paixão nas palavras que fluem de mim.
Não vês que eu escrevo na doçura terna dos teus beijos, gloriosas aventuras de uma menina/mulher sedenta de ti?
 
Amimas aflito a lágrima que teima em cair porque sabes que ela é a primeira palavra que me fica, antes da torrente da indiferença em que me sepultarei. Esmagas com palavras o que outros esmagaram com actos, fazendo-me sentir como se eu não tivesse um lugar debaixo da lua…
como se eu fosse uma cidadã anónima perambulando pelas ruas da madrugada.
 
Por favor não me faças sentir isto, porque se o voltar a sentir; será esse o último dia que te vi.

Ave de Verão

                                                   

Quem és tu…
Que deixas o nome nos meus sonhos
E o teu perfume a transpirar na minha pele.
E o corpo dorido por onde antes outros dedos foram aves de verão
...hoje a tua boca traçou um trilho de palavras gemidas dizendo que sou tua sem nunca o ter sido.
?
Quem és tu…
Que me estende uma mão inquieta...
Um coração… uma casa aberta… que os meus dedos invadem, até ao fundo dos sentidos…
E sem medo chego ao fim para voltar ao principio, decorando o que já sei, e é sempre nova a leitura da  pele…
?
 
Quem és tu …
que não escreve; sussurra…
Que não fala; murmura…
Que descreve em palavras secretas que não fecha a porta, retém-na aberta
Para a entrada triunfal do desassossego de passos conexos,
Gestos convexos,
Olhares e sentires
 e tudo o que estiver para vir.
?
 
Quem és tu…
Que soltas a mão e crias traços sem rumo no meu corpo…
Dormes sobre o cansaço embalado pelo momento breve da esperança.
… Divides comigo os intervalos da vida.
Depois partes como qualquer ave de Verão.
 
 
Quem és tu… ????????
 

És o Meu Abrigo!

                                                  (foto de minha autoria)

Acordando todos os poderes da ausência… encostei-me a ti e descobri que com o acordar da erva, a minha voz canta em rios mansos, palavras difíceis que temi dizer-te, e que exigem ser ditas porque a cada dia que passa, mais me recosto nos contornos suaves do teu nome fazendo de ti meu agasalho; ternura do que vou vestindo!

Por esta volúpia interminavelmente louca...

Acredita… é mesmo verdade…

Eu amo-te!

Suspensa por querer-te

                                                   ( Foto de minha autoria )


Poderia dizer-te:  Eu sei, que nunca é tarde.
Mas que reflexo teria em ti?

Poderia pintar em ti cores de esperança.
Mas quem me diz que não irias repintá-las, retocando a fotografia para preto e branco?
Poderia abrir-te a porta da alma, de forma mais ou menos legítima, e mostrar-te a tentação pelo abismo dos sentidos e dos sentimentos, convidar-te a reviver as emoções.
Mas abriria em ti um sorriso, ou, criminosamente, traçaria um novo rasto de sangue nas tuas cicatrizes?
Talvez pudesse escrever-te o mais belo poema, enaltecer as virtudes da entrega, de ultrapassar medos e receios.
Mas quem me diz que não iria estrangular ainda mais os teus silêncios, quiçá amordaçados pela vida, pelos outros?
Por me sentir suspensa, encosto-me para trás e sem deixar de olhar-te no mais fundo de ti e do teu imaginado sorriso, deixo que uma ruga de tristeza tua me diga que, de facto, talvez seja demasiado tarde.
Como se a utopia, de repente, se desfizesse nos cacos que não conseguimos colar.
Como se todas as nuvens, ficassem definitivamente negras.
… e não mais fosse possível construir um baloiço na ponta de uma estrela!